segunda-feira, 11 de abril de 2022

A Diversidade de Interpretações na Bíblia: Uma Perspectiva Acadêmica

A Diversidade de Interpretações na Bíblia: Uma Perspectiva Acadêmica
baseado em "Hermenêutica e Linguagem Natural", texto de conclusão de Pós-Graduação do Prof. Ademir Albino Moreira Filho

Introdução

A Bíblia, como texto sagrado de várias religiões, é reconhecida por sua complexidade e diversidade. Grupos dos mais diversos, completamente conflitantes apelam para esta mesma fonte como sua "regra sobre todas as regras". Uma das razões para essa diversidade é o fato de que a Bíblia ter sido composta ao longo de séculos por diferentes autores e em diferentes contextos históricos e culturais. Mesmo ao supor um poder Divino sobre todos estes autores, este poder, mesmo que os reduza a meros amanuenses, sobre o que nem todos concordam, ainda se percebe claramente a humanidade e individualidade destes autores, resultando em um incongruente, pela individualidade, conjunto que se harmoniza fora do Tempo ou Formalmente apenas, constituindo um desrespeito ao texto, historicidade, hermenêutica, aos autores e qualquer fonte Divina a tentativa de ler tal biblioteca escrita, editada, colada e colecionada por diferentes pessoas como se fosse um livro univocal.


1. Fontes e Autores Diversos

A Bíblia é composta por uma variedade de gêneros literários e foi escrita por diversos autores, muitos dos quais são desconhecidos. Ela foi colada, colecionada, editada e traduzida. Qualquer poder supra ou preter natural envolvido neste processo decidiu que as marcas do mesmo seriam abundantes e claras, contituindo portanto parte da mensagem em si. Um exemplo que é amplamente aceito pelos estudiosos, seria que a Torah contém diferentes fontes, como: o Javista, o Eloísta, o Deuteronomista e o Código Sacerdotal. Essas fontes frequentemente apresentam narrativas e pontos de vista distintos, resultando em uma obra que não expressa uma única e contínua ideia. Esta ideia, surge pelas marcas presentes no texto em si, e ainda que se possa hipotetizar outras origens para a descontinuidade, o que se deve notar é que a descontinuidade permanece independente de como é interpretada.


2. Interpretação como Negociação

Cada leitura da Bíblia é uma negociação com o texto, onde o leitor interage com os elementos culturais, históricos e linguísticos presentes. Esta negociação inevitavelmente resulta em uma variedade de interpretações. Como negar que o interpretador define o resultado de tal estudo, quando abundantemente percebemos que a falta de conhecimento ou pericia causa entendimentos falhos ao redor dos quais toda a facciosidade institucional se organiza?


3. Princípios Fundamentais sobre a Interpretação

É importante lembrar que, ao interpretar a Bíblia, certos princípios fundamentais devem ser considerados. Em primeiro lugar, os grandes princípios do amor ao próximo e da busca pela felicidade universal devem ser mais importantes na negociação com o texto do que a transliteração de todos os aspectos circunstanciais, anacrônicos ou culturais mencionados em cada passagem.


4. Diversidade de Ideias e Perspectivas

Autores como Jacques Derrida, Paul Ricœur, Orígenes e Martinho Lutero exploraram essa diversidade de ideias e perspectivas na Bíblia. Eles nos lembram que cada autor e cada texto bíblico reflete um contexto específico, uma visão de mundo e uma mensagem, e não há exigência de que todos os textos sejam lidos como concordantes entre si.

Em resumo, a riqueza da Bíblia reside em sua diversidade e complexidade. Reconhecer e respeitar essa diversidade é fundamental para uma interpretação significativa e relevante, que leve em conta tanto os aspectos históricos e culturais quanto os grandes princípios éticos e espirituais que permeiam o texto.

Esta diversidade de interpretações tem sido explorada por diversos autores ao longo do tempo, desde a Idade Média até os dias atuais.


1. Orígenes (c. 185–c. 254)


Um dos antecessores que abordou a multiplicidade de interpretações na Bíblia foi Orígenes, um dos mais importantes teólogos e exegetas da igreja primitiva. Ele defendeu a ideia de que a Bíblia continha significados simbólicos e alegóricos além do sentido literal, e que diferentes interpretações poderiam coexistir sem se contradizer.


2. Martinho Lutero (1483-1546)


No século XVI, Martinho Lutero, um dos líderes da Reforma Protestante, questionou a autoridade da igreja católica romana e defendeu o princípio da interpretação individual da Bíblia. Ele argumentou que cada pessoa deveria ser capaz de interpretar as Escrituras por si mesma, e que diferentes leitores poderiam chegar a interpretações diversas, porém válidas, guiados pelo Espírito Santo.


3. Jacques Derrida (1930-2004)


O filósofo francês Jacques Derrida introduziu o conceito de "diferença" na interpretação bíblica. Ele argumentou que a Bíblia é um texto que contém múltiplas vozes e significados, e que nenhum desses significados é definitivo ou autoritário. Derrida enfatizou a necessidade de reconhecer e respeitar a multiplicidade de interpretações.


4. Paul Ricœur (1913-2005)


O filósofo francês Paul Ricœur abordou a polissemia da Bíblia em sua obra "Interpretação e Ideologia". Ele argumentou que a Bíblia é um texto rico em símbolos e metáforas, e que sua interpretação é influenciada por diferentes contextos culturais, históricos e teológicos. Ricœur enfatizou a importância de uma abordagem hermenêutica que leve em conta essa diversidade de perspectivas.


Em resumo, autores como Orígenes, Martinho Lutero, Jacques Derrida e Paul Ricœur contribuíram significativamente para nossa compreensão da diversidade de interpretações na Bíblia. Eles nos lembram que a riqueza desse texto sagrado reside precisamente em sua capacidade de ser interpretado de múltiplas maneiras, refletindo assim a complexidade da experiência humana e da busca espiritual.





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